Essa história aconteceu com um amigo de um amigo de um
amigo de um amigo de um amigo da sogra do cunhado do
irmão da esposa de um amigo do trabalho mas poderia
ter acontecido com qualquer um de nós. Aeroporto de
Buenos Aires, 15:30. Pequeno mal-estar causado por uma
cólica intestinal, mas nada que uma urinada e uns
flatos não aliviasse. Mas, atrasado para pegar o
ônibus que o levaria para o outro aeroporto da cidade,
de onde partiria o vôo para Córdoba, resolveu segurar
as pontas, "afinal de contas, são só uns 15 minutos de
viagem. Chegando lá, terei tempo de sobra para dar
aquela mijadinha esperta." Tranqüilo. O avião só saia
as 16:30. Entrando no ônibus, sem sanitários, sentiu a
primeira contração e tomou consciência de que sua
gravidez fecal chegara ao nono mês e que faria um
parto de cócoras assim que entrasse no banheiro do
outro aeroporto. Virou para o amigo que o acompanhava
e sutilmente, falou: "Cara, mal posso esperar para
chegar na merda do aeroporto porque preciso largar um
barro. "Nesse momento, sentiu um urubu beliscando sua
cueca, mas botou o esfíncter pra trabalhar e este
segurou a onda. O ônibus nem tinha começado a andar
quando para seu desespero, uma voz em castelhano disse
pelo auto falante: "Senhoras e senhores, nossa viagem
entre os dois aeroportos levara em torno de 1 hora".
Aí, o urubu ficou maluco querendo sair a qualquer
custo! Fez um esforço hercúleo para segurar o trem
merda que estava para chegar na estação cu a qualquer
momento. Suava em bicas. Seu amigo percebeu e, como
bom amigo que era, aproveitou para tirar um sarro. O
alívio provisório veio em forma de bolhas estomacais
indicando que pelo menos por enquanto as coisas tinham
se acomodado. Tentava se distrair vendo a paisagem mas,
só conseguia pensar em um banheiro, não com uma
privada, mas com um vaso sanitário. Tão branco e tão
limpo que alguém poderia botar seu almoço nele. E o
papel higiênico então: branco e macio e com textura e
perfume e - Ops! - sentiu um volume almofadado entre
seu traseiro e o assento do ônibus e percebeu
consternado que havia cagado. Um cocô sólido e
comprido daqueles que dão orgulho de pai ao seu autor.
Daqueles que da vontade de ligar pros amigos e
parentes e convidá-los pra apreciar, na privada, tão
perfeita obra: dava pra expor na bienal. Mas sem
dúvida, não nesse caso. Olhou para o amigo, procurando
um pouco de solidariedade, e confessou sério: "Cara,
caguei." Quando o amigo parou de rir, uns cinco
minutos mais tarde, aconselhou-o a ficar no centro da
cidade, escala que o ônibus faria no meio da viagem, e
que se limpasse em algum lugar. Mas ele resolveu que
ia seguir viagem, pois agora estava tudo sob
controle.
- "Foda-se, me limpo no aeroporto," - pensou -
"Pior que isso não fico".
Mal o ônibus entrou em movimento, a cólica recomeçou,
e mais forte. Ele arregalou os olhos, segurou-se na
cadeira mas não pode evitar, e sem muita cerimônia ou
anunciação, veio a segunda leva de merda. Desta vez
como uma pasta morna. Foi merda pra todo que e lado,
borrando, esquentando e melando a bunda, cuecas, barra
da camisa, pernas, panturrilhas, calças, meias e pés.
E mais uma cólica anunciando mais merda, agora
líquida, das que queimam o fiofó do freguês ao sair
rumo a liberdade. E depois um peido tipo bufa, que ele
nem tentou segurar, afinal de contas o que era um
peidinho pra quem já estava todo cagado. Já o peido
seguinte foi do tipo que pesa e ele se cagou pela
quarta vez. Lembrou-se de um amigo que certa vez
estava com tanta caganeira que resolveu botar modess
na cueca, mas colocou com as linhas adesivas viradas
para cima e quando foi tirá-lo, levou metade dos pelos
do cú junto. Mas era tarde demais para tal artifício
absorvente. Tinha menstruado tanta merda que nem uma
bomba de cisterna poderia ajudá-lo a limpar a
sujeirada. Finalmente chegou ao aeroporto e saindo
apressado com passos curtinhos, suplicou ao amigo que
apanhasse sua mala no bagageiro do ônibus e a levasse
ao sanitário do aeroporto para que ele pudesse trocar
de roupas. Correu ao banheiro e entrando de box em
box, constatou a falta de papel higiênico em todos os
cinco. Olhou para cima e blasfemou:
- "Puta que pariu".
Entrou no último, sem papel mesmo, e tirou a roupa
toda para analisar sua situação (que concluiu como
sendo o fim do poço) e esperar pela mala da salvação
com roupas limpinhas e cheirosinhas e com ele uma
lufada de dignidade no seu dia. Seu amigo entrou no
banheiro com pressa, tinha feito o "check-in" e ia
orrendo tentar segurar o vôo. Jogou por cima do box o
cartão de embarque e uma maleta de mão e saiu antes de
qualquer protesto. Ele tinha despachado a mala com
roupas. Na mala de mão só tinha um pulôver de lã
gola "V". A temperatura em Buenos Aires era
aproximadamente 35 graus. Desesperado, começou a
analisar quais de suas roupas seriam, de algum modo,
aproveitáveis. Suas cuecas, jogou no lixo. A camisa
era história. As calças estavam deploráveis e assim
como suas meias, mudaram de cor tingidas pela merda.
Seus sapatos estavam nota 3, numa escala de 1 a 10 .
Teria que improvisar. A invenção é mãe da necessidade,
então ele transformou uma simples privada em uma
magnífica máquina de lavar. Virou as calças do lado
avesso, segurou-a pela barra, e mergulhou a parte
atingida na água. Começou a dar descarga ate que o
grosso da merda se desprendeu. Estava pronto para
embarcar. Saiu do banheiro e atravessou o aeroporto em
direção a área de desembarque trajando sapatos sem
meia, as calças do lado avesso e molhadas da cintura
ao joelho (não exatamente limpas) e o pulôver gola "V"
sem camisa. Mas caminhava com a dignidade de um lorde.
Embarcou no avião, onde todos os passageiros estavam
esperando o "RAPAZ QUE ESTAVA NO BANHEIRO" e
atravessou todo o corredor ate o seu assento ao lado
do amigo que sorria. A aeromoça aproximou-se e
perguntou se precisava de algo. Ele chegou a pensar em
pedir uma gilete para cortar os pulsos ou 130
toalhinhas perfumadas para disfarçar o cheiro de fossa
trasbordante, mas decidiu não pedir:
- "Não preciso de nada, obrigado. Eu só quero esquecer
este dia de merda!!!"