Em uma escola muito heterogênea, onde estudam
alunos de várias classes sociais, durante uma
aula de português, a professora
pergunta para a turma:
- Alguém sabe qual é o significado
da palavra "óbvio"?
Rapidamente, Marcílio, São Paulino, um dos
mais aplicados alunos da classe, que estava
sempre muito bem vestido e
cheiroso, respondeu:
- Prezada professora, hoje acordei bem cedo,
ao raiar do dia, depois de uma ótima noite
de sono, no conforto de meu quarto,
em meu maravilhoso lar.
Desci a enorme escadaria de nossa residência
até o andar onde fica a copa e tomei um
delicioso café da manhã.
Depois de deliciar-me com as mais apetitosas
iguarias, fui até a janela que dá vista para o
jardim de entrada de casa e admirei aquela
bela paisagem por alguns minutos, enquanto
pensava como é agradável e belo viver.
Olhando para a garagem, percebi que se encontrava guardado ali, o automóvel
BMW pertencente a meu pai.
Pensei com meus botões:
"É ÓBVIO que meu pai foi ao
trabalho de Mercedes."
Sem querer ficar para trás, José, Palmeirense,
de uma família de classe média, acrescentou:
Professora, hoje eu não dormi muito bem,
porque meu colchão é meio duro.
Mas eu consegui acordar assim mesmo,
porque coloquei o despertador do lado
da cama para tocar bem cedo.
Levantei meio zonzo, comi um pão meio
muxibento e tomei café.
Quando saí para a escola, vi que o fusca
do papai estava na garagem.
Imaginei:
"É ÓBVIO que o papai foi
trabalhar de ônibus."
Embalado na conversa, Luiz, Corinthiano,
também quis responder:
- Fêssora, oje eu quase num drumí, pruquê
teve tiroteio até tardi na favela.
Só acordei di manhã, pruquê tava morreno
di fome, mas num tinha nada
pra cumê mesmo...
Quando oiei pela janela du barracão,
vi a minha vó cum jornal dibaxo
du braço e pensei:
"É ÓBVIO qui ela vai cagá. Num sabe lê!"